Não basta informar. As empresas de comunicação têm que assumir seu papel como agente de mudanças para um mundo sustentável e, além de associar sua marca à agenda ESG, ter postura firme para ouvir técnicos e cobrar responsáveis por tragédias decorrentes das mudanças climáticas.
A visão de Marcello Corrêa Petrelli, presidente do Grupo ND, retrata a forma de atuação do maior produtor de conteúdo regional do país. O jornalista compara sua atuação na empresa catarinense com mais de 35 anos de história à de um vendedor – não só de ideias, projetos e produtos, mas principalmente de propósitos.
Informar, formar e, acima de tudo, perpetuar os legados das boas referências. Isso é o que considero comunicação de compromisso e de resultados”, diz o executivo, neto da primeira funcionária pública de Santa Catarina. “Como empresários, temos a responsabilidade de gerar riqueza, rentabilidade e lucro e também de investir parte disso para perpetuar a humanidade. Está claro que a questão ambiental está em risco. Cada um deve assumir seu papel e sua responsabilidade.”
Qual é a avaliação do sr. em relação ao avanço da agenda ESG no setor de comunicação?
A primeira página de um PowerPoint de apresentação hoje é a página de sustentabilidade. Esse é um valor muito importante para o investidor. Como empresa de comunicação, percebemos que precisamos não apenas informar, mas também agir e nos integrar a essa realidade. A comunicação estava um pouco fora desse contexto, sem entender que precisamos também ser parte dessa mudança, mas está começando a entender seu papel.
Os investimentos socioambientais muitas vezes são vistos como despesas que ficam em segundo plano. O ESG pode ser bom negócio mesmo em momentos de crise?
Antigamente se dizia que fazer obra embaixo do asfalto não dava voto. Hoje isso é diferente. As pessoas agora reconhecem os gestores públicos que investem em saneamento básico, na gestão do lixo e na reciclagem, assim como valorizam as empresas que se comprometem com a sustentabilidade. Ser uma empresa que constrói sustentabilidade não é mais visto como despesa, mas como investimento. Um investimento que traz resultados, fortalece a relação com colaboradores, investidores, acionistas e com a comunidade em geral. Hoje é fundamental que a marca de uma empresa esteja associada a essas práticas. Longe de ser um custo, é um investimento necessário para a perpetuação de uma empresa, de uma marca e de seus produtos.
A recente tragédia no Rio Grande do Sul reforçou a preocupação global com os impactos das mudanças climáticas. Como essa questão tem sido vista pelo setor de comunicação?
Tivemos quatro enchentes em nove meses, e agora fica evidente a negligência do poder público. São 30 anos de falta de grandes obras, de manutenção insuficiente e desleixo, de construção sem planejamento. Diante disso, a tragédia era inevitável. A comunicação precisa ser muito mais atuante e agressiva, no sentido de ter uma visão técnica mais profunda e contínua. O empresário, por sua vez, precisa respeitar o zoneamento, o loteamento, a construção, as questões das invasões e do lixo. A comunicação tem a obrigação de atuar de forma muito mais firme, pois tendemos a focar no cotidiano e deixamos de lado as grandes causas. Essa é uma lição muito importante: temos a responsabilidade de atuar, não como especialistas, mas buscando o conhecimento dos entendidos para que eles nos orientem sobre o que precisamos cobrar e de quem.
Quais são os principais obstáculos para os empresários implantarem com mais força as ações de sustentabilidade?
A cultura do brasileiro, por questões de crise e instabilidade, tende a focar muito no curto prazo. No entanto, começamos a aprender a planejar a médio e longo prazo, especialmente após a implementação do real. Mas ainda falta uma cultura de perpetuação que pense nas gerações futuras, na continuidade e na importância de ações de longo prazo.
O que caracteriza uma liderança de sucesso?
Primeiro é fundamental ter autoconfiança e um propósito. É a partir disso que surge a veia empreendedora. Quando o empreendedor trabalha 16 horas por dia, é porque ele tem a vontade de realizar e entregar. O dinheiro surge como consequência. O segundo ponto é ser um bom administrador, ter a capacidade de ser criativo e inovador. Outro aspecto fundamental é formar, treinar e valorizar a equipe, além de administração cuidadosa, controle de despesas, responsabilidade financeira e capacidade de tomar decisões informadas. E é crucial continuar sendo uma pessoa ativa.