Não adianta só pegar a onda, tem que mergulhar de cabeça na implantação de ações sociais, ambientais e de governança para que tenham efetividade prática. E é fundamental saber mensurar os efeitos dessas iniciativas para não cair na trava de encará-las como despesas. “No longo prazo, elas acabam se tornando também impactos financeiros positivos”, diz Luciano Alves Abrantes, CEO da Unidade de Negócios Portobello.
A visão do executivo é reveladora de como os princípios do movimento ESG são centrais na estratégia do maior grupo de cerâmica do Brasil. Com mais de duas décadas de experiência em empresas renomadas, como Natura e Johnson & Johnson, ele chegou à Portobello em 2023 na posição de vice-presidente de tecnologia e transformação e foi convidado para comandar a produção em Tijucas (SC), com 2.500 colaboradores e canais de revenda, engenharia e exportação para 65 países.
Adotar a agenda ESG, diz Luciano, “não é apenas uma exigência do mercado ou da legislação, mas um compromisso genuíno da Portobello”.
O ESG ganhou corpo nos últimos anos no meio empresarial, embora as ações práticas já estivessem no radar de empresas como a Portobello. Qual é a importância desse movimento?
O ESG é central na estratégia do grupo e da unidade, seja na parte social, de governança ou ambiental. A cada ano revisamos nosso planejamento para um ciclo de cinco anos. O próprio fato de termos um five years plan já reforça nosso compromisso em um olhar de longo prazo. A Portobello já tem os seus programas de cuidado ambiental e social e um modelo de governança muito antes do buzzword [palavra da moda] do ESG existir. Quando essa onda veio de forma mais organizada e estruturada, compilamos as ações que já tínhamos nesse guarda-chuva e demos mais potência a elas.
O que o senhor diria para qualquer gestor em relação ao conceito do ESG?
Adotar a agenda ESG hoje não é uma opção. Os clientes cada vez mais cobram essa atuação das grandes empresas. Gerir uma empresa do porte da Portobello e não ter um cuidado ambiental, não ter um programa de diversidade e inclusão, não ter uma preocupação com a governança? Hoje isso faz parte não só de estratégia, mas do dia a dia das organizações. É pouco crível gerir uma empresa como a Portobello sem metas para mensurar a efetividade das suas iniciativas. Quando não se olha para essas dimensões, os planos têm pouca efetividade prática, podem ter um bom impacto inicial, mas viram um voo de galinha, sem perpetuidade. Nesse tema do ESG, tem que tomar cuidado ao embarcar em uma onda e só tatear a superfície, sem mergulhar de cabeça de verdade.
Quais são os principais obstáculos para as empresas implementarem com mais força ações de sustentabilidade?
Mensurar e fazer com que isso vire um gerador de impacto positivo, não necessariamente monetário, é o grande desafio. Muitas vezes as iniciativas ESG acabam sendo encaradas como despesas adicionais. Enquanto estiver nesse ciclo de que essa ação é uma despesa adicional, não se consegue dar escala e fica preso. Quando se consegue quebrar isso e mensurar de fato os impactos das suas ações, se consegue destravar o potencial. Obviamente que tem outras travas, mas ao meu ver essa é uma das maiores. O impacto positivo nem sempre é financeiro, nem sempre é monetário; muitas vezes essas ações melhoram o clima organizacional, melhoram as suas relações com a comunidade, com os stakeholders. E no fim do dia acabam gerando impactos positivos. De uma forma ou de outra, no longo prazo acabam se tornando também impactos financeiros positivos. Mas estar nesse ciclo de que ESG é aumentar despesa é uma das grandes travas.
A tragédia recente do Rio Grande do Sul trouxe alertas sobre as mudanças climáticas no mundo. Na condição de gestor empresarial, que lições acredita que isso pode ter deixado?
A tragédia nos tocou bastante por vários fatores. Pelo impacto nos nossos clientes, nossos fornecedores e na comunidade Portobello. Infelizmente, ainda há muita gente cética com as mudanças climáticas, cética com a necessidade de atuar nesse aspecto ambiental. Essa tragédia realmente sacode um pouco. Para quem ainda era muito cético, ver algo que nunca aconteceu antes, uma situação tão drástica, mexe muito. Fica como um grande recado. Para quem já está se movimentando, que acelere. Para quem não está, que comece rapidamente, porque as mudanças climáticas estão aí. Elas não são simplesmente teorias de cientistas ou de uma parte da mídia, mas algo que já bateu à nossa porta.
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