Não é uma questão de moda nem de média: adotar a agenda ESG (Environmental, Social and Governance) tem impacto direto no lucro e no futuro de uma organização. E se a iniciativa privada não contribuir no combate aos extremos climáticos, seus negócios podem acabar. “O setor privado também precisa se engajar. Desastres naturais, como grandes enchentes, podem destruir uma empresa”, afirma Otacílio do Nascimento, gerente de comunicação institucional da Toyota do Brasil e diretor da Fundação Toyota do Brasil.
Natural de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, e com formação em publicidade e propaganda, Otacílio acumula mais de duas décadas na montadora, onde começou na área de produção e depois migrou para a comunicação. Passou a compor também a diretoria da fundação sem fins lucrativos, que já completa 15 anos de compromissos socioambientais.
“Temos observado o grande potencial do país não apenas em termos de capacidade, mas em relação à emergência das questões socioambientais”, diz.
Como é a atuação da Fundação Toyota do Brasil e de que maneira ela está alinhada aos princípios ESG?
Em 2007, começamos a analisar formas de ampliar nossa agenda social no Brasil. Já tínhamos um compromisso com práticas que hoje são conhecidas como ESG, mas que eram tratadas sob diferentes nomenclaturas, como responsabilidade social e socioambiental. Levamos para nossa matriz no Japão a proposta de uma instituição dedicada a essa agenda. Recebemos apoio e, em 2009, conseguimos estabelecer a fundação. Nossas principais bandeiras são a educação e a conservação ambiental. Um dos projetos mais destacados é o Arara Azul, iniciado em 1989 pela Toyota e posteriormente incorporado pela fundação. Há seis anos, conseguimos retirar a arara azul da lista de animais em risco de extinção.
A indústria automotiva ainda está associada à emissão de poluentes e danos ambientais ou essa imagem já foi revertida?
É um processo. Hoje o debate tem sido muito em torno da eletrificação dos carros híbridos e elétricos, tanto por uma cobrança da sociedade quanto por uma questão de emergência climática. Acho que essa imagem, não só do setor automotivo mas de outros setores também, tem mudado. Quando olhamos para a Toyota, temos compromissos sólidos e concretos de como podemos, por meio da diversidade de veículos, trazer mais tecnologia embarcada. Também aproveitamos o potencial do Brasil com o etanol, falando de biocombustível, e como isso traz eficiência energética e contribuição ambiental para os carros.
O que dizer para os gestores sobre a relevância da agenda ESG?
O ESG impacta diretamente no nosso negócio e no nosso lucro. Para ser uma empresa sustentável, precisa ter uma boa reputação e um bom produto. É um conjunto de fatores que vai fazer você se diferenciar no seu segmento. O ESG está no core business da empresa e sempre será uma forma de se destacar, seja por meio de uma nova tecnologia no carro que emite menos CO2 ou por programas sociais que ajudem na formação de jovens para empregabilidade em regiões mais vulneráveis. Tudo isso ajuda a atrair e reter bons talentos, desenvolver bons projetos e fortalecer a reputação. Sempre digo a todos na Fundação que o ESG é uma responsabilidade de todos os funcionários, desde aqueles que estão na portaria até os que estão na operação, na direção ou no staff.
Quais os obstáculos para a implantação de ações de sustentabilidade, sociais e de governança?
O grande obstáculo é o tempo. Temos visto uma frequência muito grande de desastres naturais. Recentemente, um grande desastre no Rio Grande do Sul. Se não tivermos políticas públicas eficazes e se o setor privado não contribuir para esse movimento e para esses compromissos, isso pode acabar com nossos negócios. O governo tem uma grande responsabilidade, mas o setor privado também precisa se engajar. Desastres naturais, como grandes enchentes, podem destruir uma empresa. As temperaturas estão subindo cada vez mais, e não é apenas aqui, mas no mundo todo. Precisamos correr contra o tempo para mitigar esses impactos.
Que dicas daria para alguém que almeja ser uma liderança de sucesso?
Sempre tive muita curiosidade sobre tudo ao meu redor. A própria Toyota me incentivou a questionar: “Por que isso é feito assim? Por que não podemos melhorar? Por que não fazemos diferente?”. Uma grande liderança precisa estar um passo à frente para enxergar grandes oportunidades. E ninguém constrói nada sozinho, sempre construímos com um time.