ENTREVISTA / IVAN E MAITÊ

"ESG É QUESTÃO DE

CULTURA EMPRESARIAL"

"ESG É QUESTÃO DE CULTURA EMPRESARIAL"

Ivan Blumenschein Diretor industrial e Maitê Lang Diretora comercial - Foto por Vitor Severo, Caroba Produções

Os engenheiros Maitê Lang e Ivan Blumenschein tinham sólida formação acadêmica e carreira executiva quando se encontraram na gigante Embraer e decidiram alçar outros voos. Além de criar em 2004 a fabricante de chocolates Nugali, embarcaram, como casal, em um conceito na vida pessoal e no mundo dos negócios alinhado aos princípios de sustentabilidade social e ambiental, muito tempo antes de as corporações serem invadidas pelo movimento ESG.

Trata-se de “uma questão de cultura naquilo em que se acredita”, diz Maitê, diretora comercial da empresa fundada em Pomerode (SC), sua terra natal, com padrões de qualidade e sustentabilidade inéditos duas décadas atrás. “A experiência em grandes empresas dá um lastro, mas nada tão desafiador quanto começar um negócio do zero”, diz Ivan, diretor industrial, nascido em São Paulo (SP) e crescido no Rio de Janeiro (RJ).

Mais do que uma marca de chocolates mundialmente premiada, Maitê e Ivan montaram a primeira bean-to-bar brasileira – quando o fabricante realiza todas as etapas de processamento.

Entrevistador: rodrigo coutinho, presidente da Editora Expressão

Como vocês incorporaram os conceitos do movimento ESG?

Ivan – Desde que fundamos a empresa, sempre tivemos um cuidado muito grande em não usar aromatizantes, conservantes, corantes artificiais. Isso já nasceu no primeiro momento. Oferecer um produto que fosse de verdade e tivesse um teor mais alto dos ingredientes mais puros. Fomos os primeiros no Brasil a fazer o chamado bean-to-bar, quando a empresa processa desde as amêndoas de cacau até o produto final. Para isso, tínhamos que encontrar cacauicultores que produzissem cacau de alta qualidade. Naturalmente que, pelo cuidado que tinham, precisavam receber mais. Criamos uma relação que remunera até hoje um cacau que custa mais ou menos o dobro do preço do cacau commodity. Não sabíamos o nome disso naquela época, mas é o fair trade, o tal do comércio justo, que é um dos pilares do ESG. Fomos um dos primeiros a colocar energia fotovoltaica, ganhamos prêmio de inovação por fugir de plásticos de reciclabilidade difícil, carbono neutro, lixo zero e uma série de outras iniciativas que fomos agregando.

O que vocês diriam para qualquer gestor sobre como o ESG ajuda no sucesso do negócio?

Maitê – Ser uma empresa baseada nesse tripé do ESG é principalmente uma questão de cultura naquilo em que se acredita. Não tem escapatória, é o mínimo que a gente tem que fazer. A primeira coisa é acreditar e dar oportunidade de toda a equipe conhecer, ver os benefícios, o impacto que ações sustentáveis podem trazer tanto para a empresa quanto para a comunidade e o planeta. E o consumidor está cada vez mais consciente disso.

Quais os principais obstáculos para as empresas implantarem com mais força ações ambientais, sociais e de governança?

Maitê – O principal obstáculo está dentro da própria empresa, de mudar essa cultura, o pensamento, a forma com que a gente faz pequenas escolhas diárias. Se vai discutir um produto novo, tem que atender aos nossos requisitos de sustentabilidade. Se vai fazer um processo novo, tem que estar de acordo com as normas de governança. E em tudo é analisado o impacto social.

A tragédia do RS deixou quais lições ao mundo empresarial em relação às mudanças climáticas?

Ivan – As coisas têm um preço, uma consequência. O mundo tem cada vez mais gente, as pessoas vão ter que tomar mais cuidado com a maneira como vivem. A mesma coisa vale para as empresas. Tem que estar atento para a maneira como se produz e o impacto disso. Chegou-se a um ponto em que não dá mais para negar os fatos. Essa tragédia vem esfregar na nossa cara que existe consequência. Já passou do tempo de estar preocupado só com o resultado sem estar muito atento para de que forma se chega a esse resultado.

O que caracteriza um empreendedor de sucesso e que dicas vocês dariam para futuros líderes?

Ivan – É preciso ter persistência. É claro que criatividade, talento, sorte, tudo isso faz parte, mas quase tudo pode compensar com persistência. Às vezes as pessoas têm a fantasia de que as coisas simplesmente acontecem. Não é verdade; talvez com mais frequência as coisas deem errado. Estar preparado para não desistir, para quebrar a cara e ir de novo, é a característica mais fundamental.

Maitê – É essa garra, tentar fazer bem feito e não desistir. Se fosse para dar uma dica, seria: “Não dá” não é resposta. Se receber um “Não dá”, procure outra maneira, vamos fazer dar, essa é a diferença entre dar certo ou não dar em nada.

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