ENTREVISTA / DIRCEU LEITE

"clima acende alerta

para governança"

"clima acende alerta para governança"

Dirceu Leite, Presidente da Epagri, foto por Júlia Caroba, Caroba Produções

Natural de Agrolândia (SC), cidade de 11 mil habitantes na região do Alto Vale do Itajaí, Dirceu Leite compartilha a preocupação com os impactos dos extremos climáticos na condição tanto de “filho” da “terra da agricultura” como de presidente da Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina).

Com origem em uma família de pequenos agricultores, Dirceu assumiu em 2023 a direção da empresa vinculada ao governo catarinense depois de uma sólida formação técnica e acadêmica e experiência como gestor público. Formado engenheiro agrônomo, com mestrado em ciências do solo, chegou a ser secretário e vice-prefeito de sua cidade natal.

O presidente da Epagri avalia a tragédia das enchentes deste ano no Rio Grande do Sul como um alerta para a necessidade de governança em meio às mudanças do clima. Ele defende a conciliação do desenvolvimento econômico com ações de sustentabilidade e preservação ambiental. “É extremamente possível, plausível e necessário”, afirma.

Entrevistor: rodrigo coutinho, ceo da editora expressão

Por que a agenda ESG se torna cada vez mais relevante nas ações do poder público e da iniciativa privada?

Vivemos em um ambiente dinâmico, de constante mudança. Essas ações vão ao encontro das demandas da sociedade. Trabalhar políticas públicas que ajudem a preservar o meio ambiente, que levem em consideração a agenda ESG. E isso vem acontecendo nos últimos anos com maior intensidade diante das condicionantes que o clima está nos proporcionando. São desafios gigantes que precisam ser encarados.

É possível conciliar desenvolvimento econômico, sustentabilidade e preservação ambiental?

Sim, é extremamente possível, plausível e necessário. As condicionantes ambientais impostas pelo clima estão no nosso dia a dia. As políticas públicas precisam ser desenvolvidas nesse viés. A Epagri tem uma preocupação muito grande com isso e tem no seu escopo de trabalho um plano de ações junto com o governo do estado para permitir o desenvolvimento rural sustentável. Trabalhar essa questão tanto na iniciativa privada como no órgão público é extremamente importante.

A recente tragédia no Rio Grande do Sul deixou quais alertas sobre a crise climática?

Tivemos essa situação dramática e catastrófica no Rio Grande do Sul. Com certeza acende um alerta quando se fala na questão da governança. Temos em Santa Catarina uma ação diferenciada. É um estado que também sofre com inundações, às vezes no mesmo ano secas, mas temos um diferencial, uma rede de acompanhamento bastante robusta que permite a emissão de alertas climatológicos. Através dos estudos da Epagri, visamos ações de mitigação aos efeitos das variações climáticas, que vão ao encontro de sistemas que reduzam o impacto desses eventos externos. Não é fácil, mas são ações que podem contribuir para reduzir isso ao longo do tempo. O que aconteceu no Rio Grande do Sul poderia ter acontecido em qualquer estado da federação. Santa Catarina está se preparando para enfrentar esses problemas à altura.

Quais são os principais obstáculos no setor público que dificultam o avanço de ações sustentáveis e para lidar com a crise climática?

Os eventos extremos começam a fazer parte do nosso dia a dia. Ano após ano somos atingidos por estiagem bastante forte ou precipitações intensas que provocam alagamentos. O grande limitador quando se fala nas ações é tempo e orçamento. Conseguir convencer os órgãos a aportar recursos em estudos é um grande desafio vencido pela Epagri e pelo governo do estado para trazer ações que permitam enfrentar o tempo de resposta dessas ações.

O que caracteriza uma liderança de sucesso? Como gestor público, que dicas daria para futuros líderes empreendedores?

Os desafios são constantes, e todo dia aparece alguma coisa nova. O que carrego comigo é manter sempre o foco. Transparência nas ações, deixando claro que se trabalha com base em critérios. Costumo falar muito, mas também gosto de escutar. Ouvir as pessoas, respeitar as opiniões e a partir dali tirar as suas conclusões é extremamente importante. E fazer as coisas com energia e dedicação.

A Epagri é a maior vencedora do Prêmio Expressão de Ecologia, com 25 troféus Onda Verde já conquistados. Como o sr. vê o reconhecimento desse trabalho?

A Epagri se sente honrada em receber prêmios com trabalhos que faz no dia a dia. Vivemos um tempo em que algumas tecnologias já consagradas acabaram caindo em desuso, mas, diante dos eventos climáticos dos últimos anos, voltaram à tona com mais intensidade.

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