MUDANÇAS CLIMÁTICAS

ONDA VERDE SOB

ALERTA VERMELHO

ONDA VERDE SOB ALERTA VERMELHO

Após três décadas de nova cultura socioambiental e ações premiadas, desafio aumenta diante de catástrofes climáticas

Há pouco mais de três décadas, uma nova era ambiental despontava com a ECO-92, conferência da ONU realizada no Rio de Janeiro (RJ), que consolidou a pauta do desenvolvimento sustentável. A onda verde levou a uma reflexão mundial sobre a preservação do meio ambiente e se tornou embrião de uma iniciativa que perdura como a mais longeva premiação da área no Brasil. O Prêmio Expressão de Ecologia, produzido pela Editora Expressão, chega em 2024 à sua 30ª edição com a marca acumulada de 3.390 projetos inscritos, reveladores de ações inspiradoras na região Sul e no estado de São Paulo.

O louvável esforço demonstrado ao longo dos anos pelos ganhadores do Troféu Onda Verde, que superaram entraves burocráticos e turbulências econômicas, contribuiu para a disseminação de uma nova cultura socioambiental e trouxe resultados diretos para a vida de moradores, trabalhadores e empresas. Agora, esse movimento se depara com um diagnóstico preocupante sobre os rumos do planeta e a necessidade de novas medidas para combater as catástrofes climáticas. O desafio, que já era grande, aumentou. A visibilidade do problema refletiu-se não só em estudos científicos, mas em efeitos práticos no dia a dia.

A nova era dos extremos climáticos é associada a episódios recentes que assustaram a sociedade, como ondas de calor em diferentes partes do globo, congelamento de animais no Hemisfério Sul, seca histórica afetando a biodiversidade no Pantanal e enchentes recordes devastando cidades do Rio Grande do Sul – estado que participa desde o terceiro ano do Prêmio Expressão de Ecologia.

Relatório divulgado em 2024 pela Organização Meteorológica Mundial, vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU), apontou que a última década foi a mais quente da história da Terra. O último ano foi 1,45 ºC acima do período pré-industrial, e a humanidade nunca esteve tão perto de ultrapassar a marca de 1,5 ºC traçada pelo Acordo de Paris como meta-limite para a elevação da temperatura global. O planeta também atingiu patamares recordes de gases de efeito estufa, acidificação dos oceanos e aumento do nível do mar. O saldo levou a entidade a emitir um alerta vermelho. Como disse a secretária-geral Celeste Saulo, há uma “necessidade vital de intensificar a urgência e a ambição da ação climática. Se não fizermos nada, as coisas vão piorar, e isso será nossa responsabilidade.”

Danos econômicos

Uma análise do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), também ligado à ONU, apontou que o “aquecimento global continuará aumentando” até 2040, “principalmente devido ao aumento das emissões acumuladas de CO2”. Embora algumas mudanças futuras sejam irreversíveis, elas “podem ser limitadas por uma redução profunda, rápida e sustentada das emissões globais de gases de efeito estufa”.

O cenário de urgência para a mitigação dos danos diante da crise do clima é reconhecido tanto por cientistas e ativistas da área ambiental como por figuras representativas do mundo dos negócios e do poder público.

Um estudo de pesquisadores do National Bureau of Economic Research, com sede nos Estados Unidos, publicado em maio de 2024 apontou que os danos econômicos causados pelas alterações climáticas são seis vezes piores do que se previa anteriormente. A estimativa é que, a cada aumento de 1 ºC na temperatura mundial, há uma redução de 12% no Produto Interno Bruto (PIB). Os impactos envolvem desde os prejuízos com as tempestades para a agricultura até a queda de produtividade e redução de investimentos. O jornal britânico Financial Times já radiografou também a pressão inflacionária das mudanças climáticas, com efeito direto nos preços de alimentos e na política monetária.

Seca histórica e incêndios florestais compõem quadro de extremos climáticos pelo mundo - Lalo de Almeida/Folhapress

saída conjunta

O panorama 32 anos depois da ECO-92 demanda, segundo especialistas, uma saída conjunta, com participação dos diferentes atores sociais – iniciativa privada, setor público e sociedade civil. Conforme já sinalizou a Organização Meteorológica Mundial, uma esperança advém da transição energética em substituição ao uso de combustíveis fósseis. A capacidade instalada de geração de energia renovável no mundo aumentou 50% em relação ao ano anterior. Na matriz elétrica brasileira, a fonte solar fotovoltaica subiu e já representa a segunda maior, superada apenas pelas hidrelétricas.

A regulamentação do mercado de crédito de carbono, em discussão no Congresso Nacional, é outro passo para frear os gases do efeito estufa e reduzir impactos climáticos. A ideia é criar um limite de emissões para as empresas e um sistema de compensação entre as que mais e menos poluem. Medidas estratégicas para mitigar as catástrofes climáticas incluem ainda incrementos na agenda de sustentabilidade empresarial, com a definição de parâmetros do movimento ESG, e um fortalecimento das estruturas de Defesa Civil nos estados e municípios.

“Apesar do amadurecimento da conscientização ambiental nas últimas décadas, surtos de negacionismo científico ainda preocupam, e a crise climática enfrenta um estágio crucial para o futuro do planeta”, como apontavam Antonio Odilon Macedo, coordenador  do júri do Prêmio Expressão de Ecologia, e Rodrigo Coutinho, presidente da Editora Expressão, na edição de 2023 da Revista Expressão. “Estamos num ponto em que tudo aquilo que se previa no papel passa a ser realidade. É uma realidade calamitosa”, reforça Odilon.

A onda verde refletida em 30 edições da premiação pede agora uma nova maré para que os investimentos ambientais não se limitem a uma gota no oceano. Cabe a todos uma mobilização mais acentuada para afastar as nuvens cinzentas e as ameaças do alerta vermelho.

Enchentes recordes devastaram em 2024 cidades do Rio Grande do Sul, que participa desde o terceiro ano do Prêmio Expressão de Ecologia