ENTREVISTA / RICARDO AUGUSTO MARTINS

"quem não se comprometer

pode desaparecer"

"quem não se comprometer pode desaparecer"

Ricardo Augusto Martins Vice-presidente da Hyundai Motor para a América Central e América do Sul e da Hyundai Motor Brasil

Com quase três décadas de experiência no setor automotivo, sólida formação acadêmica, bagagem internacional e altas posições no mundo executivo, Ricardo Augusto Martins não parou de estudar e se atualizar. A última investida do vice-presidente da Hyundai Motor para a América Central e do Sul e da operação no Brasil envolve a pesquisa dos programas ESG nesse segmento industrial para uma tese de doutorado na FGV.

Para ele, há uma mensagem clara sobre a importância de as empresas se comprometerem com a agenda sustentável. “Com os atos regulatórios impostos pelos países, a tendência é que quem não cumprir está fora do mercado.”

Natural de Santo André, no ABC paulista, Martins é engenheiro eletrônico (Mackenzie) e fez pós no exterior na Universidade de Michigan (EUA) e na Darmstadt (Alemanha), além de mestrado pela FIA (Fundação Instituto de Administração) em conjunto com a Universidade de Grenoble (França). É um dos vice-presidentes da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) e, antes da Hyundai, passou por Philips, GM e Delphi Automotive.

Entrevista

O sr. decidiu fazer doutorado na FGV (Fundação Getulio Vargas) mesmo já tendo alcançado uma alta posição como executivo. Qual é a importância de seguir se atualizando ao longo da carreira?

A continuidade dos estudos, especialmente o curso de doutorado na FGV, é crucial para o desenvolvimento contínuo das minhas capacidades e habilidades como executivo. Ser executivo não é apenas saber o que fazer, mas também como fazer, coordenar e desenvolver equipes para alcançar o máximo desempenho, contribuindo assim para os objetivos da empresa. Na FGV, meu principal foco de pesquisa tem sido os impactos dos programas ESG na indústria automotiva brasileira.

E quais são esses impactos?

Os programas ESG são essenciais para a redução das emissões de carbono na atmosfera, além de promoverem diminuição do desperdício e melhor uso dos recursos naturais. Eles também se concentram em cuidar da saúde dos trabalhadores e da sociedade e melhorar a governança corporativa.

A indústria automotiva esteve por muito tempo associada à emissão de poluentes e a danos ambientais. Essa imagem ainda persiste?

Está sendo revertida. Principalmente a partir de 2012, quando o governo brasileiro lançou o programa Inovar-Auto, seguido pelo Rota 2030 e, mais recentemente, o Mover, que foca a mobilidade verde. Essas iniciativas visam melhorar o desempenho ambiental das empresas, utilizando menos recursos naturais e colaborando para um ambiente mais limpo, com menores emissões de carbono.

O ESG pode ser um bom negócio para os gestores? Como conseguir atrair a atenção de empresários e da sociedade para esse tema?

A importância do ESG não se restringe ao setor automotivo, que representa 20% do PIB nacional (da indústria de transformação). Os principais benefícios incluem a redução de custos e desperdícios, além de melhorias na utilização dos recursos naturais e no desenvolvimento humano, dentro da sociedade e da governança empresarial. Há também um grande potencial para redução de custos através de novas tecnologias, que surgem com a constante inovação em materiais e processos produtivos. Diversas indústrias, incluindo a de cosméticos e produção sustentável, têm seguido o exemplo da indústria automotiva, utilizando recursos de maneira mais eficiente e contribuindo para o desenvolvimento de sociedades.

Quais são os principais obstáculos para as empresas implantarem com mais força as ações de sustentabilidade ambiental, social e de governança?

A implementação desses programas enfrenta obstáculos que dependem muito do modelo de cultura corporativa e de gestão de cada empresa. Diante do compromisso de vários países em atingir os protocolos sustentáveis e ambientais, se as empresas não estiverem comprometidas, o risco maior é de desaparecerem. Com os atos regulatórios impostos pelos países, a tendência é que quem não cumprir está fora do mercado.

O que caracteriza, na opinião do sr., uma liderança de sucesso? Que dicas daria para futuros líderes empreendedores?

A liderança de sucesso não só inspira como desenvolve e retém grandes talentos, criando uma cultura corporativa sólida que garante a longevidade dos negócios. Uma das principais dicas é continuar apostando sempre em inovação. Para alcançar a inovação, é essencial não só se autodesenvolver, mas também carregar consigo uma equipe bem preparada e manter um relacionamento sólido com outras empresas que possam fornecer suporte.

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