ENTREVISTA / KITA XAVIER

"PRECISAMOS APRENDER

COM A NATUREZA"

"PRECISAMOS APRENDER COM A NATUREZA"

Kita Xavier, Presidente do CREA-SC, por Júlia Caroba (Caroba Produções)

A imagem de uma cidade inteligente é muitas vezes associada só a investimentos em tecnologias avançadas que deixam centros urbanos em um cenário futurista. Ledo engano. A inteligência de uma cidade mira a eficiência de serviços básicos e tem como pilar a sustentabilidade ambiental, explica Kita Xavier, presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Santa Catarina.

Embaixador do Movimento Cidades Inteligentes do Lide-SC, o engenheiro civil natural de Erechim (RS) e “catarinense de coração” destaca a expertise da engenharia não só para resolver problemas, mas para fornecer soluções antecipadas. Diante das catástrofes climáticas, diz que “precisamos aprender com a natureza” e seguir modelos matemáticos para prever situações e oferecer respostas rápidas.

Kita Xavier está em seu quarto mandato no Crea-SC, após atuar por mais de duas décadas em uma construtora e acumular passagens por empresa municipal de água e por consultoria de empreendimentos imobiliários e segurança do trabalho.

Entrevistadora: rodrigo coutinho, presidente da Editora Expressão

Por que as cidades inteligentes podem ser um bom negócio para a sociedade?

Embora a tecnologia seja pilar fundamental,  ao lado da inteligência e da sustentabilidade ambiental, é crucial lembrar que uma cidade  inteligente deve, acima de tudo, atender às necessidades humanas. A engenharia desempenha um papel essencial no desenvolvimento dessas cidades. Os pilares que as sustentam são a execução eficiente de serviços e a promoção de um ambiente sustentável e habitável. A ideia central é que a inteligência em uma cidade não está apenas em usar tecnologia avançada, mas em oferecer o básico de maneira eficiente. 

Qual é a conexão desse tema com as preocupações ambientais e a agenda ESG?

As empresas precisam considerar igualmente os aspectos econômico, social e ambiental para alcançar um desenvolvimento sustentável. Nenhum dos componentes do tripé ESG deve ser negligenciado em favor de outro.

Quais são os principais obstáculos para a implantação de ações de sustentabilidade e outros conceitos das cidades inteligentes?

A sustentabilidade deve ser vista como um projeto de vida. Sem a integração do meio ambiente em nossas vidas, não conseguiremos ter uma empresa voltada para a sociedade. Quando falamos de cidades inteligentes, um pilar importante inclui a gestão de resíduos sólidos para dar um destino adequado ao lixo e investir em reciclagem. Outro aspecto fundamental de uma cidade inteligente é a segurança. Não se trata apenas de colocar mais policiais nas ruas. A verdadeira segurança vem da ocupação dos espaços urbanos, da criação de ambientes humanos e agradáveis. Outros aspectos importantes incluem saneamento básico, fornecimento de água potável e energia elétrica e mobilidade urbana. Muitas vezes, desenvolvemos cidades para carros e não para pessoas.

Que lições a tragédia no Rio Grande do Sul deixou para a sociedade em relação às mudanças climáticas?

Tivemos uma enxurrada muito forte que causou problemas sérios devido à falta de uma vazão adequada. Temos modelos matemáticos e outras profissões registradas no Crea, como meteorologistas, que podem prever certas situações e oferecer respostas rápidas. No Rio Grande do Sul, várias ações foram projetadas para evitar esses problemas, mas faltaram manutenção e visão a longo prazo. Isso pode acontecer novamente no futuro, tanto no Rio Grande do Sul quanto em outras cidades de Santa Catarina, que enfrentam problemas sérios devido ao perfil geológico, com áreas suscetíveis a deslizamentos e enchentes. Precisamos aprender com a natureza e considerar várias formas de resolver problemas, como abrir encostas ou construir túneis, aproveitando a tecnologia disponível para apresentar soluções eficazes. A tragédia nos ensinou que precisamos estar atentos, e a engenharia desempenhou um papel crucial ao ajudar as pessoas a resolver suas situações imediatas. Fizemos vistorias em mais de 40 escolas públicas e 11 unidades básicas de saúde, com o apoio de colegas de SC, PR e RS.

O que caracteriza um líder de sucesso?

Temos um programa chamado Crea Júnior. A ideia é formar novos líderes, pois acreditamos que um líder já nasce com potencial, mas precisa de um empurrão e incentivo. Sempre digo: “Para se tornar um líder, precisa fazer algo mais do que o esperado. Trabalhe em dobro, dedique-se, especialize-se, faça algo além para que as pessoas reconheçam seu esforço”. Para ser líder, é necessário ser dedicado, especialista e sempre buscar inovação.

ENTREVISTA COMPLETA