A emergência climática é uma realidade inegável, que afeta a todos e precisa ser focada sem margem para negacionismo. Não basta só um discurso bonito. É preciso botar a boca no trombone, mas também colocar a mão na massa.
As avaliações do presidente da Apremavi (Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida), Edinho Pedro Schaffer, e da vice-presidente e coordenadora de comunicação, Carolina Schaffer, expõem não apenas opiniões, mas uma forma de atuação da ONG criada em 1987, hoje com sede em Atalanta (SC), e que atua diariamente na restauração de áreas degradadas e na conservação da Mata Atlântica.
Natural de Atalanta, Edinho tem formação de técnico florestal e turismólogo e acumula quase duas décadas na entidade. Da mesma cidade, a bióloga Carolina, que tem mestrado em botânica, passou por outras organizações (Instituto Socioambiental, Agência de Cooperação Técnica Alemã, União Internacional para a Conservação da Natureza, Secretaria do Meio Ambiente do DF) e desde 2017 retornou à ONG que se mantém ativista frente às catástrofes socioambientais.
Como conciliar desenvolvimento econômico e preservação ambiental?
Carolina – Diante do cenário atual de crise climática, perda de biodiversidade e escassez hídrica, não temos outra alternativa a não ser buscar a conciliação. As soluções baseadas na natureza já estão disponíveis. Precisamos adaptar a matriz energética para fontes sustentáveis e substituir produtos de origem não sustentável por produtos certificados, provenientes de manejo florestal sustentável. É fundamental conciliar o desenvolvimento econômico em todas as esferas (local, regional e nacional) com a preservação ambiental. Isso inclui a proteção das florestas, a conservação da biodiversidade e a manutenção dos recursos hídricos, e também o controle do desmatamento.
O que se pode dizer sobre os avanços da agenda ESG no meio empresarial?
Edinho – Todas as instituições deveriam ter essa conscientização porque isso faz com que as empresas e marcas se consolidem no mercado. A população está bem conscientizada e as empresas também. Às vezes falta a questão de querer fazer, de colocar a mão na massa, de não ser apenas um diálogo “ah, isso é bonito”.
O que a sociedade pode tirar de aprendizado da tragédia no Rio Grande do Sul?
Carolina – Ela não é a primeira que a região Sul enfrenta. Santa Catarina está envolvida em eventos climáticos extremos há muitas décadas. A principal lição é aprender que a crise climática é real e está batendo na nossa porta. Não há espaço para negacionismo. Os cientistas alertam há décadas sobre os rumos que precisamos tomar e as trajetórias para conter o aumento da temperatura global e reduzir as tragédias enfrentadas pelas populações. Precisamos superar essa onda de negacionismo e colocar a ciência e os resultados da área técnica no centro da tomada de decisão.
Quais os impactos da crise climática no mundo dos negócios?
Edinho – É preciso focar na emergência climática, que é uma realidade inegável. O que falta aos líderes é ouvir a população e os cientistas e começar a implementar de fato tudo aquilo que muitas vezes é apenas um discurso bonito. Suas empresas, instituições e até mesmo suas ações pessoais refletem esses discursos? É essencial colocar tudo isso em prática.
De modo geral, o que caracteriza, na sua opinião, um empresário bem sucedido e como se diferenciar de tantos outros no mercado?
Carolina – Não temos tempo a perder, precisamos do envolvimento de toda a sociedade. Não adianta pensar que, por termos mais ou menos recursos, seremos afetados de maneiras diferentes. Em algum ponto, a mudança climática afeta a todos de forma igual. O planeta como um todo está aquecendo e todos vamos vivenciar os impactos. É nossa responsabilidade, como seres humanos, agir para ganhar tempo – tempo de vida, tempo de qualidade e bem-estar em nossa trajetória.
O que caracteriza uma liderança de sucesso?
Edinho – A preocupação ambiental é algo que todos precisam ter em mente. No dia a dia, percebo que outras prioridades muitas vezes tomam a frente. E é necessário ter força de vontade para colocar o discurso em prática. A persistência é uma qualidade crucial para os líderes, assim como o diálogo com diversos setores e pessoas.
Carolina – A principal característica é ter o potencial para o diálogo, estando aberto para conversar com diferentes setores. E é impossível falar em liderança de sucesso hoje em dia sem considerar a sustentabilidade. É necessário ter a sustentabilidade no coração e buscar o bem-estar para gerar e apresentar soluções para as crises que a humanidade enfrenta.